‘Cisne negro’ leva prêmio de melhor filme, diretor e atriz no Spirit Award

Tudo bem que a Academia já decidiu os vencedores do Oscar há alguns dias, mas se houvesse a possibilidade de uma influência externa de última hora ela seria a favor de “Cisne negro”. O thriller psicológico de Darren Aronofsky foi o grande vencedor do Spirit Awards 2011 e levou os prêmios de melhor filme, diretor e atriz. A cerimônia, considerada a mais importante do cinema independente, aconteceu neste sábado (26), em Santa Monica, na Califórnia. “Inverno da alma”, que teve melhor ator e atriz coadjuvantes (John Hawkes e Dale Dickey), foi outro destaque.

O evento, como definiu o ator Mark Ruffalo (indicado a melhor ator coadjuvante por “Minhas mãe e meu pai”), teve clima de piquenique na praia, com uma extensa tenda montada na areia da praia. Um piquenique pra lá de friorento: todos os atores se cobriram com casacos na premiação e alguns até esqueceram de tirá-los na hora de subir ao palco – caso de James Franco, que foi com uma malha de vovô para receber o prêmio de melhor ator por “127 horas”. Ele concorria com os atores Ronald Bronstein, de “Daddy Longlegs”, Aaron Eckhart, de “Reencontrando a felicidade”, John C. Reilly, de “Cyrus”, e Ben Stiller, de “Greenberg”.

Dirigido por Danny Boyle, “127 horas” conta a história real do montanhista americano Aron Ralston, que em 2003 foi obrigado a amputar parte do próprio braço direito quando sofreu um acidente nas montanhas de Utah (EUA).

O forte vento também estragou o penteado de muitas atrizes: Naomi Watts parecia ter tomado um susto quando apareceu no telão. “O bom do Spirit é que ele é casual e daqui todos vocês parecem uma merda”, brincou o apresentador da premiação, o ator John McHale (da série “Community”), logo no começo do evento. Incorreto e divertido, McHale mostrou seu arsenal de piadas com um rápido stand-up de aquecimento.

Sua primeira tese polêmica foi a que o cinema deste ano foi o cinema da cunilíngua, uma referência às cenas de sexo oral presentes em “Cisne negro” e “Minhas mães e meu pai”. “Não é só ‘O discurso do rei’ que mostra como é bom fazer exercícios com a língua”, disparou.

O filme de Tom Hopper, grande favorito ao Oscar e líder de indicações (12 no total), venceu o Spirit de melhor filme estrangeiro. “Nunca imaginei que ganharia um prêmio de melhor filme estrangeiro”, ironizou o diretor britânico durante o seu agradecimento.

Bom começo de ‘Inverno da alma’
Tendo como base o seu início, “Inverno da alma” parecia ser o grande vencedor do Spirit 2011. Contando claramente com o apoio dos jornalistas e profissionais do cinema, o longa era ovacionado a cada vez que seu nome era indicado. John Hawkes, por exemplo, foi aplaudido de pé por quase todo o salão quando foi anunciado como melhor ator coadjuvante.

Quem também teve forte torcida – muito por parte da comunidade gay de Hollywood – foi “Minhas mães e meu pai”. A mesa do elenco era uma das mais animadas e os roteiristas Stuart Blumberg e Lisa Cholondenko trocaram um grande beijo quando receberam o prêmio de melhor roteiro. “Queria fazer isso há sete anos”, disse Blumberg para a colega, lésbica assumida.

Porém, no final quem teve receber todos os aplausos foi “Cisne negro”. O trabalhou ganhou quatro prêmios e levou para casa os mais cobiçados. “Todo mundo me falava que esse filme não daria grana, e muitos que investiram agora estão milionários”, brincou o diretor Darren Aronofsky, que durante seu discurso disse ter uma dívida eterna com Natalie Portman, eleita melhor atriz.

Natalie concorria com Annette Bening, de “Minhas mães e meu pai”, Greta Gerwig, de “Greenberg”, Nicole Kidman, de “Reencontrando a felicidade”, Jennifer Lawrence, de “Inverno da alma”, e Michelle Williams, de “Namorados para sempre”.

“Pensei nela [para o filme] há dez anos. Natalie me mostrou que não é preciso ser alguém insano para ser um bom ator”, declarou Aronofsky para os jornalistas da sala de imprensa .Ele também disse ter certeza que seu próximo filme será independente, devido a dificuldade que costuma ter para pôr os seus projetos em prática.

“É o que dá pensar com a cabeça fora da caixa. Achei que depois de ‘O lutador’ meu próximo filme seria mais fácil [de financiar], mas não foi. E o próximo será mais ainda”, afirmou.

“Cisne negro” conta a história de uma bailarina que entra em colapso às vésperas da estreia de um espetáculo. Ele também floi premiado na categoria “fotografia”, para Matthew Libatique.

O mistério continua
O artista plástico francês Thierry Guetta, conhecido como Mr. Brainwash, subiu ao palco do Spirit Awards para receber o prêmio de melhor documentário por “Exit through the gift shop”.

O prêmio para o documentário era cercado de expectativa. O filme é dirigido pelo grafiteiro Banksy, que tem diversos trabalhos espalhados por muros mundo afora, mas nunca revelou sua identidade.

A Academia já informou que, caso ganhe a estatueta, o diretor não poderá usar máscara para receber o prêmio no palco do Teatro Kodak, onde acontece a cerimônia neste domingo (27).

Guetta recebeu o prêmio das mãos de Jesse Einsenberg, indicado ao Oscar por “A rede social” e da atriz Rosario Dawson.

No Oscar, os concorrentes de “Exit through the gift shop” são “Gasland”, “Trabalho interno”, “Restrepo”, além de “Lixo extraordinário”, coprodução entre Brasil e Reino Unido.

Confira a lista dos vencedores do Spirit Awards 2011. O canal pago i-Sat exibe a premiação no Brasil às 22h do dia 5 de março.

Filme: “Cisne negro”
Diretor: Darren Aronofsky, por “Cisne negro”
Atriz: Natalie Portman, “Cisne negro”
Ator: James Franco, “127 horas”
Roteiro: Stuart Blumberg e Lisa Cholodenko, por “Minhas mães e meu pai”
Atriz coadjuvante: Dale Dickey, de “Inverno da alma”
Ator coadjuvante: John Hawkes, de “Inverno da alma”
Filme de diretor estreante: “Get low”, de Aaron Schneider
Filme de roteirista estreante: Lena Dunham, de “Tiny Furniture”
Fotografia: Matthew Libatique, por “Cisne negro”
Documentário: “Exit Through the Gift Shop”, de Banksy
Filme estrangeiro: “O discurso do rei”
Prêmio John Cassavetes: “Daddy longlegs”